quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Filipe Abranches: O Diário de K.

["- Amar ou morrer? Amar ou morrer?
- Amar! Amar!"]

[Sonhar... é tudo o que resta!]

Em 2001, Filipe Abranches, autor de banda desenhada, publicou um livro lindíssimo [edições Polvo], baseado na história de amor de K. Maurício, de A Morte do Palhaço, de Raul Brandão. Citação que escolhe para abrir: "Nada se perde, cada um traz consigo, cometa que arrasta a cauda de lama ou de ouro, o seu passado, vestígios de ideias, crimes, horas de amargura e horas em que se beijaram lábios de mulher por quem a gente se perde... Creia na minha experiência de vida..."

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Raul Brandão: sobre a mãe

"Minha mãe gastou-se a sonhar, só nervos e paixão: viu cair por terra todos os seus sonhos - e teimou em sonhar, atrevendo-se contra todo o universo! A realidade temerosa afastou-a sempre de si. Venceu-a. Deu-nos vida a todos. Alimentou-nos do mesmo sonho que a devorou até ao final, sem medo da morte, como se a morte fosse a continuação natural da vida. Foi dela que herdei a sensibilidade e o amor pelas árvores, pela água, e dela herdei também o sonho...

domingo, 3 de outubro de 2010

Raul Brandão: sobre o pai

"Aos 23 do mês passado (Julho de 1910) morreu meu pai amachucado, exausto e pobre.  Encntrão de um, repelão de outro, assim foi até à cova. Tinha 67 anos incompletos. Não podia mais. Encontraram-se-lhe alguns cobres no bolso. Há muitos anos que se arrastava, e só tinha de seu uma alegria e um repouso: aos domingos. Aos domingos, metia-se no quarto, calçava uns chinelos, e toda a tarde chorava lágrimas sem fim sobre um velho romance de Camilo."

sábado, 2 de outubro de 2010

Foz do Douro, Porto

Monumento de pedra e bronze dedicado a Raul Brandão.
Concebida por Henrique Moreira em 1967.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

O pobre de pedir

[Editado postumamente em 1931]
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Há um momento atroz entre nós os dois em que ambos rangemos de dor: é quando eu suspeito e ela suspeita que o nosso casamento foi uma mentira. É quando no silêncio que me impus, de propósito para a fazer sofrer, ela desconfia que nunca a amei - e esse pensamento dói-lhe a ponto de gritar de dor - é quando eu desconfio que tudo em mim foi cenário e que até o amor está fora do meu alcance. E ambos, em lugar de nos recriminarmos, remoemos em silêncio, eu e os meus pensamentos hostis, ela e os seus pensamentos dolorosos. Tenho a impressão que chega a ser cruel. Porque eu despedaço-me e grito. Chego a gritar de dor - e ela cala-se.