sexta-feira, 1 de outubro de 2010

O pobre de pedir

[Editado postumamente em 1931]
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Há um momento atroz entre nós os dois em que ambos rangemos de dor: é quando eu suspeito e ela suspeita que o nosso casamento foi uma mentira. É quando no silêncio que me impus, de propósito para a fazer sofrer, ela desconfia que nunca a amei - e esse pensamento dói-lhe a ponto de gritar de dor - é quando eu desconfio que tudo em mim foi cenário e que até o amor está fora do meu alcance. E ambos, em lugar de nos recriminarmos, remoemos em silêncio, eu e os meus pensamentos hostis, ela e os seus pensamentos dolorosos. Tenho a impressão que chega a ser cruel. Porque eu despedaço-me e grito. Chego a gritar de dor - e ela cala-se.

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